domingo, 15 de janeiro de 2017

Livros de youtuber e alguns parênteses

Este texto pode parecer extenso, mas não é não, escrevi no calor da tarde (literalmente, Espírito Santo é um inferno no verão). Espero que vocês gostem!


Não há como falar do fenômeno youtuber sem falar do fenômeno da internet. Não há como falar dos livros de youtubers e do interesse das pessoas em saberem suas vidas, sem falar no fenômeno internet e da espetacularização da vida cotidiana. 

Não ha como falar do YouTube no Brasil, sem observar que a grande maioria é branca e associar  as falácias do racismo e da escravidão, pois a população brasileira com os seus mais de 50% de negros não tem tanta representativa,  por volta do final de 2015 começa a surgir youtubers negros falando, principalmente, de questões sociais.

Brancos, por questões históricas, foram mais privilegiados, tinham mais poder aquisitivo para ter internet em casa, que nos seus primórdios, como foi o telefone, era coisa de rico.  A escravidão deixou marcas de desigualdade até hoje.

Mas hoje falarei dos youtubers, seus livros e Guy Debord. Porém, antes, farei pequenos parênteses esclarecendo alguns pontos que acho necessário.

Youtubers


O Brasil com os seus mais de 200 milhões de brasileiros não viveu o boom da internet ainda. De acordo com  a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2016, no ano de 2004 apenas 6 milhões de brasileiros tinham acesso a internet. E, em 2014, mais da metade dos domicílios passam a ter acesso à Internet, 54,9%, o equivalente a 36,8 milhões de domicílios. E se for analisar área rural e urbana as proporções são distintas: 60,8% na área urbana e 18,5% na área rural.

O fato de youtubers nos últimos anos terem alcançado maior número de inscritos anda lado a lado com a internet chegando à casa das pessoas.

O pensador francês Guy Debord escreveu em 1967 o livro “A sociedade do espetáculo”, onde ele faz uma critica a imagem e ao consumo desenfreado, que leva as pessoas à passividade, aceitando qualquer coisa que é dita, mesmo se essa coisa tem cunho totalmente capitalista e material. A realidade é construída de forma que se torna a representação do real, vale mais o ter do que o ser. A sociedade do espetáculo é a relação das pessoas mediada por imagens.
“O espetáculo apresenta-se como algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível. Sua única mensagem é ‘o que parece é bom, o que é bom parece’. A atitude que ele exige por principio é aquela aceitação passiva que, na verdade, ele já obteve, na medida em que aprece sem réplica, pelo seu monopólio da aparência” (DEBORD; Guy, 2003, p.17)

Youtubers expõe sua vida, construindo algo que nem sempre é real, fazendo um papel duplo, o mesmo das telenovelas, com suas interpretações exageradas; criando personagens de humor, muitas vezes sem roteiros;  talk show, dando sua opinião sem a famosa imparcialidade; conversam de maneira coloquial, dentro do seu quarto gravando com sua cama ao fundo ou sentado nela. E não poupam detalhes de sua vida contam sua primeira vez,  mostram seu casamento, gravidez,  filhos etc... trabalho que nós sabíamos ser realizado pelas revistas de fofocas, dedicado a contar a vida das celebridades.

Vídeos amadores e youtubers independentes perdem a vez e oportunidade de crescimento, devido aos vídeos mega produzidos. A plataforma Youtube não é tão democrática quanto parece ser, grandes empresas estão investindo pesado, famosos migram da televisão para o Youtube, com super produções, investindo pesado mesmo, jovens iniciam canais focando na fama (alguns até pensado em ganhar Oscar), com uma grande equipe (editores, produtores, assessores, equipamentos de primeira...) esses youtubers arrastam milhões de pessoas, tornam-se empresários com dezenas de anunciantes, contratos milionários e patrocinadores.  Mas essa é uma pequena parcela deles. Os privilegiados.


Editoras
As editoras precisam vender livros. Existem muitos custos para manter o mercado editorial, algumas editoras estão fechando as portas como aconteceu com a Cosac Naify que tem livros extraordinários de artes, por exemplo, mas era direcionado há um público específico e com preços elevados.

Os livros digitais também não democratizam tanto assim, não são tão práticos, para ler com a tela do computador é complicado por causa da luz, e nem todo mundo vai poder comprar kindle/kobo para ler em PDF com uma luz confortável para os olhos. Além disso, trabalhando muito, ganhando pouco, perdendo horas no trânsito, transportes público lotado e sucateados, faltando dinheiro para necessidades básicas a população não adquiri livros, não consegue consumir. E se comprarem, quando lerão? 

Editoras + youtubers = Lucro


Os livros de youtubers vendem. Crianças, adolescentes, são apaixonados. Eu fui apaixonada por “Rebelde”, comprava tudo: pôster, álbum, livros, CD.  Eles não têm telespectadores, tem inscritos. Fãs.

Pense comigo: A TV é praticamente uma companhia, quem nunca chegou em casa e ligou a TV só para ouvir e não se sentir sozinho?

No YouTube você precisa ligar o computador, escolher o vídeo  e assistir. Passivo. YouTube é entretenimento. Esses inscritos não vêem seus youtubers em revistas e programas de TV com freqüência, ou nunca vêem, pois só os mais famosos, que passam no critério de relevância ou que tem um grande número de inscritos, são convidados para estarem nos programas de televisão ou nas revistas.

Portanto, foi uma grande sacada das editoras. Elas foram muito inteligentes e eu aplaudo a iniciativa. Trouxerem a vida deles (youtubers), opinião, fotos trabalhadas num registro que pode durar para sempre, e se eles escrevem (ou permitem que um escritor fantasma escreva) alguma polêmica, algo que não deveria estar no livro, já era, já foi impresso. E isso é um ótimo marketing. Mais um ponto.

Eu olhei algumas livrarias e os livros de youtubers estavam bem dispostos, naquelas pilhas de livros na entrada e nas vitrines. De acordo com o site Publish News, os livros mais vendidos no mês de janeiro de 2017 são: na lista de autoajuda está “Não se apega, não” de Isabela Freitas, em segundo lugar com 6.329 exemplares vendidos. Na lista de não ficção, aparece Kéfera Buchman comTá gravando. E agora?”, em quinto lugar  vendendo 3.441 exemplares. E por fim, a trilogia de Authentic Games” de Marco Túlio em sexto, nono e décimo lugar, vendendo no total 7214 exemplares. E como eles, têm vários outros bem posicionados e vendendo bem como Jout Jout e Camila Loures. Vendem, e vendem muito. E não interessa se é modinha, se é fútil; vende.

Beijos e até a próxima

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