Este texto pode parecer extenso, mas não é não, escrevi
no calor da tarde (literalmente, Espírito Santo é um inferno no verão). Espero que vocês gostem!
Não
há como falar do fenômeno youtuber sem falar do fenômeno da internet. Não há
como falar dos livros de youtubers e do interesse das pessoas em saberem suas
vidas, sem falar no fenômeno internet e da espetacularização da vida
cotidiana.
Não
ha como falar do YouTube no Brasil, sem observar que a grande maioria é branca
e associar as falácias do racismo e da
escravidão, pois a população brasileira com os seus mais de 50% de negros não
tem tanta representativa, por volta do
final de 2015 começa a surgir youtubers negros falando, principalmente, de
questões sociais.
Brancos,
por questões históricas, foram mais privilegiados, tinham mais poder aquisitivo
para ter internet em casa, que nos seus primórdios, como foi o telefone, era
coisa de rico. A escravidão deixou marcas
de desigualdade até hoje.
Mas
hoje falarei dos youtubers, seus livros e Guy Debord. Porém, antes, farei
pequenos parênteses esclarecendo alguns pontos que acho necessário.
Youtubers
O
Brasil com os seus mais de 200 milhões de brasileiros não viveu o boom da
internet ainda. De acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2016, no ano de 2004 apenas
6 milhões de brasileiros tinham acesso a internet. E, em 2014, mais da metade
dos domicílios passam a ter acesso à Internet, 54,9%, o equivalente a 36,8 milhões
de domicílios. E se for analisar área rural e urbana as proporções são
distintas: 60,8% na área urbana e 18,5% na área rural.
O
fato de youtubers nos últimos anos terem alcançado maior número de inscritos
anda lado a lado com a internet chegando à casa das pessoas.
O pensador
francês Guy Debord escreveu em 1967 o livro “A sociedade do espetáculo”, onde
ele faz uma critica a imagem e ao consumo desenfreado, que leva as pessoas à
passividade, aceitando qualquer coisa que é dita, mesmo se essa coisa tem cunho
totalmente capitalista e material. A realidade é construída de forma que se
torna a representação do real, vale mais o ter do que o ser. A sociedade do espetáculo
é a relação das pessoas mediada por imagens.
“O
espetáculo apresenta-se como algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível.
Sua única mensagem é ‘o que parece é bom, o que é bom parece’. A atitude que ele
exige por principio é aquela aceitação passiva que, na verdade, ele já obteve,
na medida em que aprece sem réplica, pelo seu monopólio da aparência” (DEBORD; Guy,
2003, p.17)
Youtubers
expõe sua vida, construindo algo que nem sempre é real, fazendo um papel duplo,
o mesmo das telenovelas, com suas interpretações exageradas; criando personagens
de humor, muitas vezes sem roteiros; talk show, dando sua opinião sem a
famosa imparcialidade; conversam de maneira coloquial, dentro do seu quarto
gravando com sua cama ao fundo ou sentado nela. E não poupam detalhes de sua
vida contam sua primeira vez, mostram
seu casamento, gravidez, filhos etc... trabalho
que nós sabíamos ser realizado pelas revistas de fofocas, dedicado a contar a
vida das celebridades.
Vídeos
amadores e youtubers independentes perdem a vez e oportunidade de crescimento, devido
aos vídeos mega produzidos. A plataforma Youtube não é tão democrática quanto
parece ser, grandes empresas estão investindo pesado, famosos migram da
televisão para o Youtube, com super produções, investindo pesado mesmo, jovens
iniciam canais focando na fama (alguns até pensado em ganhar Oscar), com uma
grande equipe (editores, produtores, assessores, equipamentos de primeira...)
esses youtubers arrastam milhões de pessoas, tornam-se empresários com dezenas
de anunciantes, contratos milionários e patrocinadores. Mas essa é uma pequena parcela deles. Os
privilegiados.
Editoras
As
editoras precisam vender livros. Existem muitos custos para manter o mercado
editorial, algumas editoras estão fechando as portas como aconteceu com a Cosac
Naify que tem livros extraordinários de artes, por exemplo, mas era direcionado
há um público específico e com preços elevados.
Os
livros digitais também não democratizam tanto assim, não são tão práticos, para
ler com a tela do computador é complicado por causa da luz, e nem todo mundo
vai poder comprar kindle/kobo para ler em PDF com uma luz confortável para os
olhos. Além disso, trabalhando muito, ganhando pouco, perdendo horas no
trânsito, transportes público lotado e sucateados, faltando dinheiro para necessidades
básicas a população não adquiri livros, não consegue consumir. E se comprarem,
quando lerão?
Editoras + youtubers = Lucro
Os
livros de youtubers vendem. Crianças, adolescentes, são apaixonados. Eu fui
apaixonada por “Rebelde”, comprava tudo: pôster, álbum, livros, CD. Eles não têm telespectadores, tem inscritos. Fãs.
Pense
comigo: A TV é praticamente uma companhia, quem nunca chegou em casa e ligou a
TV só para ouvir e não se sentir sozinho?
No
YouTube você precisa ligar o computador, escolher o vídeo e assistir. Passivo. YouTube
é entretenimento. Esses inscritos não vêem seus youtubers em revistas e
programas de TV com freqüência, ou nunca vêem, pois só os mais famosos, que
passam no critério de relevância ou que tem um grande número de inscritos, são
convidados para estarem nos programas de televisão ou nas revistas.
Portanto,
foi uma grande sacada das editoras. Elas foram muito inteligentes e eu aplaudo a
iniciativa. Trouxerem a vida deles (youtubers), opinião, fotos trabalhadas num
registro que pode durar para sempre, e se eles escrevem (ou permitem que um
escritor fantasma escreva) alguma polêmica, algo que não deveria estar no livro,
já era, já foi impresso. E isso é um ótimo marketing. Mais um ponto.
Eu
olhei algumas livrarias e os livros de youtubers estavam bem dispostos, naquelas
pilhas de livros na entrada e nas vitrines. De acordo com o site Publish News, os livros mais vendidos no
mês de janeiro de 2017 são: na lista de autoajuda está “Não se apega, não” de Isabela Freitas, em segundo lugar com 6.329 exemplares vendidos. Na lista de não
ficção, aparece Kéfera Buchman com “Tá gravando. E agora?”, em quinto lugar
vendendo 3.441 exemplares.
E por fim, a trilogia de “Authentic Games” de Marco Túlio em sexto,
nono e décimo lugar, vendendo no total 7214 exemplares. E
como eles, têm vários outros bem posicionados e vendendo bem como Jout Jout
e Camila Loures. Vendem, e vendem muito. E não interessa se é
modinha, se é fútil; vende.
Beijos e até a próxima
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