Quando
estreei o blog tinha como objetivo escrever sobre as tantas oportunidades que
surgiam para os estudantes. Mesmo não se encaixando nas regras básicas da
Capes, como ser da área de exatas, sempre defendi as oportunidades
educacionais.
Venho
agora anunciar uma das grandes perdas das conquistas acadêmicas: o fim do
programa Ciências sem fronteiras para a graduação. Há um tempo fiz um post de
como conseguir ingressar e pleitear uma vaga aqui. Hoje, infelizmente, relato o
fim dele, e ressalto os pontos que não me agradavam, mas não suficientes para
me fazer odiá-lo.
Nem tudo são flores
Algumas
coisas no programa me incomodavam. O primeiro, era que os cursos de humanas
eram vistos como algo pouco vantajoso para a população, por isso, logo no
início do programa foram retirados, era quase como se dissessem que a arte e as
letras não valem nada. O pensar era anulado.
Segundo,
era o fato de se descrever como “para alunos de excelência” sendo que um dos principais
quesitos era ser de exatas ou biomédicas, então era para os alunos de excelência
DESTES CURSOS. E isso deveria estar claro.
Terceiro,
o nível de inglês que era exigido (apesar da nota ser bem baixa) para alguns
graduandos seria muito difícil alcançar, e explico a razão; para alguns alunos
de escola pública que tiveram oportunidade de fazer inglês com bolsa ou muito
tempo livre para estudar era (e é) super possível alcançar a nota máxima, por
sua vez sabemos que só o ensino básico público não fornece aulas de inglês
dignas, não são suficientes, para aqueles que só tiveram possibilidade de
estudar neste ensino, o resultado poderia não ser satisfatório. Alunos de
escolas particulares neste item sairiam à frente, obviamente.
Ou
seja, excelência sob que ponto de vista? “Na graduação todo mundo é igual”, o
que os mais distantes da realidade afirmarão, mas eu digo que não, alguns estudantes
têm que decidir se vão tirar xerox ou lanchar, além disso o ensino que vem
antes da graduação é FUNDAMENTAL.
Por
isso, o programa estava se preparando para tomar novos rumos para englobar
pessoas de baixa renda, estudantes verdadeiramente de excelência (que não
significava só saber inglês, focados no bem maior da população e com
“bandeiras” sociais) que não tiveram tantas oportunidades.Tornar o programa
mais igualitário. E esse seria o grande momento do Ciências sem fronteiras.
O
que eu quero dizer e que você não pode dizer que um aluno de excelência de
escola pública e igual à um aluno de excelência de escola particular (há exceções,
é claro, como sempre há), visto que o segundo mesmo não querendo estudar, nunca
faltará professor em sala de aula e todos os docentes explicam a matéria, e não
só passam coisas no quadro para os alunos copiarem . Acredito que o “esforço pessoal”
não deveria ser visto como algo apreciativo e sim como algo triste, porque ser duplamente melhor o tempo todo, e
ter que desdobrar em dois para conseguir conquistas alguma coisa, é muito
cansativo. Não deveria ser assim. Para uns o caminho é largo, e para outros o
caminho é tão estreito. Isto não é, e JAMAIS SERÁ, igualdade.
Quarto,
e último, era o fato de que muitas pessoas que participavam do programa, viajam
mais do que estudavam, andavam com outros brasileiros e voltavam com um inglês
igual ao que foram; iam sem falar espanhol e voltava sem falar espanhol. A oportunidade incrível
era desperdiçada. Não escrevo isso das pontas dos dedos para fora, escrevo
porque conheço várias pessoas que foram pelo Ciências sem fronteiras para
exterior e fizeram isso; NADA.
Mas as flores que tem são lindas
No
entanto, ainda assim, defendo o programa com todas as minhas forças, porque
seja estudando muito, ganhando prêmio, ganhando menção honrosa, retornando falando uma outra língua fluente, viajando a
beça, conhecendo novas culturas e monumentos históricos, essas pessoas
aproveitaram e de alguma forma elas cresceram culturalmente, academicamente,
profissionalmente e de certa maneira, puderam
ver o que pode melhorar no nosso pais e o que é maravilhoso e pode ficar
como está, e voltam com uma nova perspectiva. E isso pode ser promissor para
todos os brasileiros e brasileiras. Não podemos prejudicar centenas de
estudantes com base em alguns fracassos, em vez de focar nos que deram errado,
porque não exaltar os que deram certo?
E
não usar alguns tropeços como justificativa para cortar gastos na educação.
Cuspindo no prato que comeu
Fico
triste quando vejo muitos estudantes ou ex estudantes, hoje já profissionais,
que usufruíram desta bolsa do governo, e
agora apoiam o fim do Ciências sem fronteiras. É fácil apoiar a extinção do programa
depois que se lambuzaram e aproveitaram. Típico de pessoas que só querem
privilégios e não igualdade de oportunidade.
Deixo
meu pesar pela perda dessa conquista estudantil que um dia poderia ser
amadurecida e conseguir alcançar mais pessoas, principalmente àqueles
estudantes que não podem fazer intercâmbio por falta de condições financeiras.
E me pergunto quanto tempo mais vai
demorar para que seja extinto o programa por completo (mestrado e doutorado).
Para saber mais clique aqui (matéria noEstadão) e aqui (na Folha de São Paulo)
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