"Ô preta!
Que lazeira é essa?
Ô preta!
Levante a cabeça!
Ô preta!
Não se esqueça!
Seu cabelo não é ruim, seu cabelo é uma beleza!"
(Coco dos pretos)
Há quase oito meses atrás se me dissessem que eu iria usar o cabelo cacheado natural eu diria que o dito cujo ou a dita cuja estava ficando louco.
Que lazeira é essa?
Ô preta!
Levante a cabeça!
Ô preta!
Não se esqueça!
Seu cabelo não é ruim, seu cabelo é uma beleza!"
(Coco dos pretos)
Há quase oito meses atrás se me dissessem que eu iria usar o cabelo cacheado natural eu diria que o dito cujo ou a dita cuja estava ficando louco.
Meu
cabelo é cacheado, nasceu assim e ficou assim até os meus 14 anos.
Adolescência, época difícil. Quando, sem saber cuidar (minha mãe e meus
irmãos tem cabelo lisinho e meu pai não sabia cuidar do cabelo dele, que dirá
do meu) e sem ter representativas na televisão, nem na vida real (todo
mundo alisava ou cortava baixinho) e nem em bonecas. Optei por alisar. Na primeira vez, alisei com amônia, meu cabelo foi parar nas costas, acima da
bunda. Achei o máximo. Depois, um pouco mais velha, fiz progressivas, escovas inteligentes e relaxamento de raiz.
Já na faculdade, queria mudar e resolvi pintar as pontas. Meu
cabelo ficou totalmente danificado. Cortei na altura da orelha. Todo mundo
gostou, inclusive eu, mas meu cabelo estava muito enfraquecido. Seguindo recomendações de um primo,
que entende de cabelo, resolvi não fazer absolutamente NADA, passar nenhuma química no
cabelo por pelo menos quatro meses. Passaram-se alguns meses e eu cortava a
parte alisada em casa mesmo. Sem querer, passei pela transição e, apesar de perceber as duas texturas,
não liguei porque na minha cabeça, ainda naquele momento, eu voltaria a alisar
logo, logo. Ledo engano. Estava eu, com o cabelo todo natural na altura
do ombro. Foi um susto, pois já não lembrava mais como era ter o cabelo natural.
No entanto, não usava solto, (nem na época da “transição capilar” prendia em
VÁRIOS penteados diferentes) demorou um pouco até me libertar completamente da
opressão e do preconceito - o meu e o da sociedade.
Quando
entrei na faculdade passei a ler mais, a debater e me tornei mais questionadora.
Através de coletivos e fóruns que debatem a cultura negra, genocídio etc.
descobrir o espaço do negro e passei a entender que tudo o que tem relação com
negro era (ou ainda é?) visto como ruim. “A Cultura negra é legal, o negro não”.
E a
partir de um forte empoderamento e consciência social e identitária, hoje,
saio com cabelos ao vento completamente livre e me sinto mais forte e
inteligente, conhecedora de mim mesma. Orgulhosa e bonita.
Mas
digo: É uma luta diária. No meio familiar e profissional em que vivo sou a única cacheada, pelo
menos com cabelo volumoso. Tem outras duas meninas que trabalham comigo e são
cacheadas, porém tem o cabelo "baixo", próximo do liso. Ainda ouço:
“O que você fez com
seu cabelo?”
“Cabelo cacheado
deixa com cara de mal arrumada, suja.”
“É lindo nos outros mas em mim acho feio.”
“Você sai assim para
todos os lugares?”
“Posso tocar?”
Ressalto
que o meu pai tinha cabelo Black Power
na juventude, até os anos 80. Sofreu por ser negro, apesar de sempre se
vestir bem, tocava surdo na escola de samba do Espirito Santo, simpático, trabalhador e
amigo de todos, cativava até quem não o conhecia. Mais
tudo piorou no mundo contemporâneo, o que aconteceu com o mundo depois
dessa década, eu não sei. Mas, a opressão retornou tão forte, que para meu pai conseguir um emprego, tinha que cortar o cabelo baixinho e manter assim. Só vi o cabelo do meu
pai com black em fotos. Nunca
pessoalmente.
Não deixemos que essa onda de feminismo
e consciência vá embora. Lutemos diariamente.
Todo
tipo de cacho (texturas) é válido. E muitas modelos de propaganda de shampoo, tem seus cabelos cacheados editados no photoshop. Por isso, escolhi
imagens de cabelos cacheados mais próximo dos naturais para vocês verem:
Steffany Borges |
Alba Ramos Garcia |
Maraisa Fidelis |
Shaneice |
Zezé Motta |
Summer |
Nenhum comentário:
Postar um comentário